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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Dia Nacional do Fusca - Entrevista com Alexander Gromow

Dando início as comemorações do Dia Nacional do Fusca, o Volks Clube do Ceará apresenta uma entrevista exclusiva concedida por Alexander Gromow, considerado pelos aficcionados do setor como o pai do “fuscamobilismo” no país.




1) Volks Clube do Ceará: Com a proximidade do Dia Nacional do Fusca, como o senhor avalia a inexistência de um Museu Volkswagen no país que mais significou para alavancar o modelo?

A. Gromow: Particularmente já atuei até junto a presidentes da VW do Brasil, como foi o caso do Pierre Alain de Smedt, no sentido de batalhar por um Museu da VW no Brasil, que infelizmente ainda não saiu. O que complica mais a coisa é que em outras “filiais” de Wolfsburg têm o seu museu, como é o caso da VW of South África – que é bem menor do que a VW do Brasil. A meu ver o custo de um Museu, ligado a um centro de preservação histórica coerente (pois, não raro, a VW do Brasil divulga fatos historicamente errados!) não deve ser tão alto, mas a formação de tal centro de preservação histórica simplesmente não é uma prioridade para os diretores da VW do Brasil até o momento, e não se sabe se alguém de lá algum dia tocará esta idéia para frente. A pena é que existem carros raros na VW do Brasil guardados sabe-se lá como que poderia fazer parte de um museu – se não houver uma preservação adequada, qualquer dia destes, este patrimônio será vendido como sucata...
A VW do Brasil irá completar 60 anos de Brasil em 2013, certamente poderia ser uma ocasião favorável para, ao menos, fazer uma revisão histórica de sua trajetória por terras brasileiras.


2) Volks Clube do Ceará: O senhor acha que há um intercâmbio forte entre os clubes ou o que acontece é ¨cada um por si¨?

A.Gromow: Este é um assunto muito interessante, vou tentar fazer um resumo. Em meu tempo de Diretor Presidente do Fusca Clube do Brasil eu iniciei um trabalho de disseminação da idéia pelo Brasil, participei da formação de vários Fusca Clubes no Estado de São Paulo. Aliás, isto ia de encontro com um acordo operacional feito com a VW do Brasil que havia cedido em 1992 o uso da palavra Fusca para nós com o pedido de atender aos demais grupos que pretendessem formar entidades semelhantes. Eu elaborei um “Kit Fusca Clube” com dicas e modelos de documentos para formar clubes e prestava colaboração para todos que nos procurassem – em acordo com a VW do Brasil a gente sub-rogava a permissão do uso do nome Fusca para estas entidades co-irmãs. O passo seguinte que eu tinha em vista era o de criar a Federação Brasileira de Clubes da Marca VW – para reunir as entidades que já existiam quando o Fusca Clube do Brasil foi oficializado, mas para isto já não tive mais tempo, pois em 20/01/1998 eu renunciei ao cargo de Diretor Presidente daquela entidade. Depois disto o FC do Brasil não deu continuidade a esta filosofia de trabalho e isto deu lugar para a formação de centenas de grupos independentes, cada um procurando o seu rumo e muitos passando pelos mesmos problemas iniciais, coisa que não precisaria ser assim se houvesse um apoio centralizado... Mas, como resultado deste processo, ocorreu a individualização das entidades – fato que vocês percebem ai no Ceará também. Como venho falando há muito tempo, um grande passo no sentido da união dos clubes e ações entre amigos ligadas a veículos VW antigos seria a criação de uma Federação. Eu encorajo vocês a fazer coro com esta idéia, pois uma Federação certamente terá uma representatividade grande e isto poderá ajudar a todos que se unirem.


3) Volks Clube do Ceará: O senhor teve apoio da Volkswagen do Brasil, na publicação do livro “Fusca: A história de um símbolo”. O senhor acha o apoio das concessionárias autorizadas importante ou os clubes é que devem ser mais profissionais para conquistá-lo?


A.Gromow: Aqui cabe uma correção, o livro “Fusca: A história de um símbolo” foi editado para a VW do Brasil pela Editora PRÊMIO, inicialmente para ser entregue a todos os compradores de Fusca Série Ouro - na interrupção definitiva de fabricação do Fusca no Brasil, eu colaborei bastante (sem receber honorários para tanto) com a elaboração do livro – dando apoio à Editora PRÊMIO dentro do que eles necessitavam. Tanto foi assim que eu recebi uma carta de agradecimento que pode ser vista no link: http://www.fuscabrasil.net/entrevista/Foto_06.jpg

Já para meu primeiro livro, eu não tive apoio da VW do Brasil Ltda, fato que por outro lado foi bom, pois eu tive independência para escrever o livro colocando posições sem que fosse necessária a aprovação da VW para isto. Esta situação é descrita no último parágrafo da introdução de meu livro: “Ressalto que esta é uma obra independente que não tem nenhuma ligação direta ou indireta com a atual Volkswagen do Brasil Ltda, não tendo contado com qualquer tipo de apoio desta empresa para a sua realização.” A introdução completa pode ser vista na página: http://www.fuscabrasil.net/Livro1/eaf3.htm

O apoio de concessionárias autorizadas é muito importante para os clubes, porém é “mosca branca”. Eu costumo sempre valorizar o apoio que algumas concessionárias dão para clubes, exatamente por reconhecer baseado em minha própria experiência a importância desta atitude. Veja o caso da COPAVA de Curitiba que até mantém um Blog para os amantes de Fusca; veja a entrevista que dei lá bem como a resposta sobre o apoio de concessionárias aos clubes da marca: http://www.euamomeufusca.com.br/blog/2011/05/30/blog-do-fusca-entrevista-alexander-gromow/

4) Volks Clube do Ceará: O senhor entende que as duas datas – 20 de Janeiro e 22 de junho criaram uma tradição para os fuscamaníacos, e podem influenciar no apoio tão desejado?


A.Gromow: Acho que sim, ao menos foi esta a idéia que resultou em ambas as datas. Mas...O apoio de concessionárias não é uma coisa automática. Depende de um bem feito trabalho de aproximação e da formação de um relacionamento baseado na confiança mútua. O clube que busca o apoio deve ter condições de demonstrar a sua efetiva intenção de um trabalho conjunto e demonstrar na prática ser uma entidade confiável que cumpre aquilo que foi combinado da melhor maneira possível. As concessionárias não são entidades de benemerência elas têm que ter algum tipo de retorno, nem que seja de imagem. Um evento mal feito pode acabar com toda e qualquer parceria – pois resultam em detrimento à imagem dos patrocinadores!
As concessionárias não têm “obrigação” de ajudar aos clubes só porque são da marca VW, isto tem que ser levado em consideração por aqueles que forem batalhar apoio.


5) Volks Clube do Ceará: Com o seu envolvimento direto na criação do Dia Nacional do Fusca, e a sua influência na decisão de também criar o Dia Mundial do Fusca, o que o senhor acha da importância do brasileiro nessa questão – na sua figura ele é respeitado pelas autoridades estrangeiras do setor automobilístico quando presente nos eventos internacionais?


A.Gromow: Ambos os eventos são datas comemorativas oficiosas, ao contrário do Dia Municipal do Fusca de São Paulo que é uma data formal, com decreto assinado pelo então Prefeito Paulo Salim Maluf. As datas oficiosas são comemoradas livremente pelos interessados, no caso os Fuscamaniacos envolvidos. Assim como ocorre no Brasil com o Dia Nacional do Fusca que é comemorado em várias localidades, de muitas maneiras diferentes. Não é um evento que necessariamente envolva autoridades. Quanto ao Dia Mundial eu posso dizer que ele é comemorado em vários países do mundo, inclusive na sua alternativa de “Dia de levar o seu Fusca para o serviço”.


6) Volks Clube do Ceará: Pelo fato do Fusca ser um símbolo, tanto para o senhor, como todos os brasileiros, como foi tomar conhecimento da intenção do fabricante de encerrar sua montagem?


A.Gromow: Foi uma situação triste por duas vezes, em 1986 e 1996, mas o mais revoltante em tudo isto foi o modo com o qual a VW tentou se ver livre da influência do Fusca em sua história. Vejam o desrespeitoso anúncio que a fábrica colocou na imprensa da época anunciando a saída do Fusca de linha em 1986. O mesmo anúncio foi usado como base para o aviso da interrupção da fabricação do motor VW Boxer refrigerado a ar que equipava a Kombi em 23/12/2005.
Detalhes na página: http://www.gromow.com/vwengine/Boxer-POR.htm


7) Volks Clube do Ceará: O senhor acredita que será possível uma montadora conseguir tanto sucesso com um modelo, ao ponto de aproximar-se do sucesso e do carinho dedicado ao Fusca?


A.Gromow: Acho difícil, mas acho também que a VW não quer reconhecer este imenso patrimônio de imagem que o Fusca deixou, e a gigantesca quantidade de amantes do carro. Se existisse este reconhecimento eu acho que a atitude perante a preservação do vínculo entre amantes do VW e a VW atual seria muito diferente. Os japoneses trabalham com afinco na fidelização de seus clientes e investem um capital importante nesta tarefa. A Mercedes Benz tem um Diretor de Relacionamento com colecionadores e amantes da marca, e assim por diante. Resumindo uns têm e não aproveitam e outros que ainda não têm estão correndo atrás.


8) Volks Clube do Ceará: Como é ver o nosso ¨besouro¨ resistir tantas décadas e ainda tomar conhecimento de que os mais jovens preferem também modernizar a mecânica, mantendo íntegra a carroceria histórica?


A.Gromow: Eu acho que o Fusca é um grande mistério, no que se refere ao mecanismo que faz com que ele seja tão amado e que este amor perdure por tanto tempo. Já sobre as modificações mecânicas, eu respeito, mas faço parte dos tradicionalistas que preferem a manutenção da originalidade dos carros. Mas vejo com muito bons olhos que jovens que não viveram na época áurea do Fusca no Brasil se interessem pelo carro.


9) Volks Clube do Ceará: Como o senhor, um expert do modelo e ex-presidente de clube, vê a evolução polêmica do assunto ¨Placa Preta¨?


A.Gromow: Como muitas coisas no Brasil a Placa Preta sofre com a impunidade e o mau caráter de muitos dos envolvidos no meio antigomobilista. Uma coisa que foi feita para auxiliar na preservação de carros antigos está sendo desvirtuada para atender a interesses mesquinhos de salafrários que deveriam ser alijados do meio!

Eu vivo exortando os colecionadores “do bem” para que se unam na defesa da instituição da Placa Preta, coisa bem difícil de fazer, mas a luta vale à pena!

Um comentário:

FAMILIA FUSCAPOCOS disse...

Alexander Gromow!!
Todos os amantes do Fusca devem agradece-lo diariamente por tudo que fez e faz por esta nossa paixào.. devemos muito ao Sr. por todo este espaço que temos .. SEMPRE SEMPRE O NOSSO MUITO OBRIGADO!! Familia FuscaPocos