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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Fusca: Ícone da Cultura Pop

Como o Fusca virou ícone da cultura popO apreço pelo Volkswagen tem grande reflexo na cultura pop, em filmes, desenhos animados, histórias em quadrinhos, músicas, brinquedos
    Fonte: http://www.diariodepernambuco.com.br/
Reprodução/Goodfon.su
Reprodução/Goodfon.su
Em parte da América Latina, Espanha e Grécia, muita gente já dirigiu um “escaravelho”. Já na Bolívia e Bulgária, o nome oficial é “tartaruga”. Mas se você estiver na Noruega ou Suécia, vai ouvir se referirem à “bolha”. Há, ainda, nomes como “sapo” (Tanzânia e Indonésia), “escova” (República Dominicana), “barata” (Guatemala), “besouro” (Estados Unidos, Moçambique, Alemanha). Os vários apelidos atribuídos mundo afora ao carro mais popular já construído dá sinais do carinho nutrido pelos proprietários em relação aos veículos. 

Não importa se o possante exala cheiro de gasolina, tem motor barulhento e é tão espaçoso quanto uma caixa de fósforos. Em todas as partes, inclusive no Recife, donos de fuscas (ou fuques/fucas, como são chamados no Paraná e Rio Grande do Sul) se reúnem periodicamente para exibir os bem conservados – e, às vezes, modificados e tunados– automóveis.

O afeto pelo fusquinha tem grande reflexo na cultura pop, em filmes, desenhos animados, histórias em quadrinhos, músicas, brinquedos. Agora, como toda grande personalidade, ele também é alvo de biografia. O carro do povo (L&PM, 400 páginas, R$ 42,90), de Bernard Rieger, engrossa a lista dos livros sobre o Volkswagen publicados no Brasil. Nele, o historiador europeu investiga a Alemanha pré-fusca, a compara com o fordismo dos Estados Unidos, e analisa a consolidação da marca tanto em território alemão quanto no exterior. Esquadrinha questões culturais, tecnológicas, políticas, econômicas e publicitárias.


ORIGEM NAZISTA
Depois de ler Minha vida e minha obra (1922), do norte-americano Henry Ford, responsável por revolucionar a maneira de fabricar automóveis, Adolf Hitler passou a investir na busca por um meio de transporte motorizado pequeno e barato. O anseio antigo da Alemanha começava a ser desenhado pelo engenheiro automotivo Ferdinand Porsche, criador da famosa marca de esportivos. O protótipo do fusca foi apresentado em tom profético pelo führer, em 1938, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, no Salão do Automóvel de Berlim: “Este carro possibilitará a milhões de consumidores de menor renda o acesso ao automóvel”.

Embora tenha sido alardeado pelo líder do Terceiro Reich, o projeto só saiu do papel depois da queda do nazismo. A origem sombria da marca, portanto, não esbarrou em estigmas. Pelo contrário, fincou raízes na memória coletiva ao ser associada a lembranças afetivas, como as aventuras da juventude, a obtenção da carteira de motorista, as primeiras férias em família. Fenômeno global, o produto alemão foi apropriado por países como México e Estados Unidos como se fossem símbolos nacionais.



ÍCONE MUNDIAL
Nenhum carro alcançou tamanha popularidade em todo o mundo. Foi o primeiro a superar as vendas do Modelo T, produzido pela Ford entre 1908 e 1927. Assim como o veículo idealizado por Henry Ford, o fusca sempre foi conhecido pela robustez, durabilidade, preço baixo e facilidade de manutenção. Foram dois ícones responsáveis por retirar o automóvel da lista de itens considerados de luxo, embora o sucesso do Modelo T tenha se concentrado mais nos Estados Unidos. O fusca, como a Coca-Cola, conquistou todos os continentes. 

Quando a última fábrica fechou as portas, em 2003, no México, mais de 21 milhões de unidades havia sido montadas em vários países. No Brasil, o primogênito da Volks chegou na década de 1950 e permaneceu por 24 anos o mais vendido no país. Hoje, fica na terceira posição (3 milhões), atrás do Fiat Uno (3,2 milhões) e do Gol (6,1 milhões).  Desde 1998, a marca alemã aposta na versão repaginada, o New Beetle. Mundialmente, o fusca é o quarto mais vendido, com 23,9 milhões de unidades. 


Helder Tavares/DP/D.A.Press
Helder Tavares/DP/D.A.Press

TAXI LARANJA
Durante três décadas, Amaro Bernardo da Silva trabalhou como taxista, no Recife, à bordo de um fusquinha laranja, modelo 1976. Em 2011, a Revista Aurora, suplemento do Diario de Pernambucohoje extinto, publicou perfil com o icônico motorista, cuja praça ficava em frente ao Hospital da Restauração, no bairro do Derby (leia aqui: diariode.pe/bfkf). No ano seguinte, o homem de 59 anos morreu, vítima de esfaqueamento motivado por vingança. O taxímetro já havia passado dos 17 mil quilômetros rodados. Por ser muito velho, o fusquinha perdeu a autorização concedida pela Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) e Seu Lucas, como era conhecido, havia sido obrigado a vender a praça. 



SLOGANS INESQUECÍVEIS 
“Algumas formas são difíceis de aprimorar”
"Pense pequeno" 
"A tartaruga mais veloz" 
"Lave e use"
"Sorria, ele voltou"
"Bom senso sobre rodas"
“Ao comprar: mais carro por cruzeiro. Se vender: mais cruzeiro por carro”
“Ué, a tendência não são linhas arredondadas?”
“De 0 a 100 no tempo suficiente”
“Surpresa. Buracos, voltei”
“Às vezes o avanço tecnológico não está no que ela faz. Mas no que deixa de fazer”
“O fusca não voltou. Porque se você olhar na rua vai ver que ele nunca foi embora”

PARA LER 
Clássicos do Brasil – fusca, de Paulo César Sandler 
Editora: Alaúde
Páginas: 108
Preço: R$ 19,90

A verdadeira história do fusca, de Paul Schilperoord
Editora: Alaúde
Páginas: 344
Preço: R$ 49,90

Fusca - O carro mais popular do mundo, de Richard Copping
Editora: Alaúde
Páginas: 176
Preço: R$ 75

Memórias de um fusca, de Orígenes Lessa
Editora: Global
Páginas: 160
Preço: R$ 31

O pequeno grande livro do fusca, de Jon Sproud
Editora: Escrituras
Páginas: 128
Preço: R$ 19,90

O carro do povo, de Bernard Rieger
Editora: L&PM
Páginas: 400
Preço: R$ 42,90

PARA ASSISTIR




KFZ – 1348 (Documentário)
Duração: 81 minutos
Formato: DVD
Preço: R$ 19,90

Dirigido pelos pernambucanos Gabriel Mascaro e Marcelo Pedroso, resgata a trajetória de um fusca ao longo de quatro décadas. Desde 1964, foram oito proprietários, até o veículo acabar em um ferro-velho do Recife. O filme usa o carro como fio condutor de várias histórias pessoais e ainda oferece reflexões sobre a sociedade brasileira. 



Se meu fusca falasse
Um dos carros mais famosos do cinema, Herbie protagonizou seis filmes, sendo o primeiro deles Se meu fusca falasse (1969, com remake em 1997). Na ficção, o veículo tem vida própria e personalidade marcante. Após ser desprezado, chega às mãos de Jim Douglas, piloto de corridas fracassado. Graças ao carrinho, ele se torna confiante e passa a vencer as provas. Ou outros longas-metragens são As novas aventuras do fusca (1974), Um Fusca em Monte Carlo (1977), A última cruzada do fusca (1980) e Herbie - Meu fusca turbinado (2006). 



PARA OUVIR
Das muitas músicas já compostas sobre o primogênito da Volkswagen, a mais lembrada é a moda de viola Fuscão Preto (1978), de Atílio Versutti e Jeca Mineiro, conhecida na voz de Almir Rogério. Anos mais tarde, em 1983, o cantor protagonizaria filme homônimo, ao lado de Xuxa Meneghel. 

Fuscão Preto - Almir Rogério
Fuscão preto você é feito de aço 
Fez o meu peito em pedaço 
E também aprendeu matar 
Fuscão preto com o seu ronco maldito 
Meu castelo tão bonito 
Você fez desmoronar... 

Vou de fusca - Daniel
Aonde tem amor eu vou
Eu vou a pé vou de fusca
Eu tô na sede, eu tô na busca
Eu vou a pé eu vou de fusca
Eu tô a fim de um grande amor

Zé do Fusca - Wilson Sideral
Fuscão do Zé é fuçado, ele é todo equipado
Tem antena parabólica e roda tala larga
Zé já trocou o freio, o estofado, o motor
Quatro pneu recauchutado e o toca-fitas
Não pára de tocar

O fusquinha do Itamar - Ultraje a Rigor
É seguro, mas é feio; é mais simples mas é lento
Não é nem bela viola; ainda é pão bolorento
E o carro que eu queria; ainda é o topo da linha
Dá vontade de matar; só de olhar pro meu fusquinha

No fusca - Trio da Huanna
No fusca, pego seguro e concentrado
No fusca, calor sem ar-condicionado
No fusca, não tem computador de bordo
Só amor de perereca, uma linguiça e dois ovos

ARTES PLÁSTICAS

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